quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Salmo 1 - O Salmo da Contramão



Os Salmos são uma coletânea de cânticos, orações e poesia da literatura judaica. E como tal, é centrada na Torah, que por sua vez, centra-se na Lei. A Torah é o centro das Escrituras Judaicas. Ela é o fio que transversa sobre todos os escritos – seja qual for o seu gênero, e os confere unidade. Torah é a expressão da vontade de Deus, é o conselho de Deus, Sua Instrução.
Os Salmos, em grande parte, são as ressonâncias da Torah no coração humano. É quando o coração se inspira, questiona, atesta, e reconhece os caminhos do Senhor. E, igualmente, aborrece os caminhos que lhe são contrários. O Salmo é uma degustação: e sobre a mesa está a vida temperada pela vontade de Deus. Salmo é prazer, Salmo é confissão, Salmo é abertura, Salmo é transparência, Salmo é nudez, Salmo é verdade: Salmo é o homem, e este inteiro: é - como diria Calvino, uma anatomia da alma humana. É o homem exposto em todos os seus humores.
Salmos são os caminhos humanos – e estes em relação à Instrução de Deus. Não por acaso o Salmo escolhido para encabeçar todo o saltério, foi um salmo dos dois caminhos. E, por isso, muito apropriadamente, o Salmo 1 é o Salmo da contramão, isto é, o Salmo que antepõe padrões e valores, e, para o qual, andar na mão dos valores de Deus é também deixar de andar em outras mãos.
Leiamos o Salmo na versão King James:


Os dois únicos caminhos

Abençoado com felicidade é o homem que não segue o conselho dos ímpios, não se deixa influenciar pela conduta dos pecadores, nem se assenta na reunião dos zombadores. Ao contrário: sua plena satisfação está na lei do SENHOR, e na sua lei medita, dia e noite! Pois conhecer o SENHOR é o caminho dos justos; o caminho dos ímpios, porém, conduz à destruição.


O Salmo 1, como já antecipamos, é um salmo de introdução. A coletânea do saltério foi sendo formada ao longo do tempo. Assim, salmos iam sendo acrescentados até termos a sua versão final. Houve um trabalho de compilação. E o Salmo 1 foi escolhido para iniciar o saltério, isto é, houve razões e motivos para que ele fosse posto ali.
Alguns dizem que provavelmente ele foi composto como uma Introdução ao Saltério. Também se diz: “quem quer que tenha feito a coletânea dos Salmos em um só volume, parece ter colocado este Salmo à guisa de prefácio”. Mas, de qualquer modo, o Salmo 1 representa toda a coletânea. John Wesley diz “este salmo foi colocado em primeiro lugar como um prefácio para todo o resto, como uma persuasão poderosa”. E diz ainda: “mostrando a bem-aventurança que acompanha o estudo e a prática [das instruções de Deus]. Ele nos mostra a santidade e a felicidade de um homem piedoso”.
Também o Spurgeon: “este salmo é considerado o prefácio dos salmos, pois apresenta o conteúdo de todo o livro”.
Assim, a contraposição do Salmo 1 – permeia todo o livro dos Salmos. Os ímpios e os justos são descritos nos caminhos que lhe são próprios.

E o que nos diz o Salmo 1?

Nos diz que há uma ordem do mal (conselho… caminho… roda), e níveis de envolvimento com ela (anda, detém, assenta),  da qual devemos nos afastar e nos contrapor. Dessa forma, o caminho do justo é o caminho em contramão à ordem do mal - conselho… caminho… roda.

 Mas essa contramão, de certo, não tem haver meramente com os encontros humanos. Mas com posturas na vida.  A comunhão proibida aqui é a pactual. Não é o mero lidar pessoal inevitável nas relações humanas. A. R. Faussett descreve o envolvimento - anda, detém, assenta - como agir sobre os princípios, cultivar a sociedade, e permanentemente conformar-se à conduta do ímpio.

 A Bíblia de Estudo Genebra diz o seguinte: “quando um homem começa a dar lugar ao conselho mau, ou à sua própria natureza pecadora... - indicando que o conselho mau pode vir da nossa própria natureza pecadora. E, assim, discerne que o “conselho ímpio” não é, necessariamente, um contágio - algo que vem de fora e nos contamina. Jesus mesmo disse que o que contamina o homem vem de dentro dele. O perigo da ordem do mal - conselho… caminho… roda - pode ser o de estimular uma impiedade que já está dentro de nós.

Assim, a contramão do justo não é, necessariamente, em relação à um ambiente. Mas em relação à impedade – onde ela se manifestar. E a impiedade não tem geografias. Ademais, é sugerido implicitamente que o caminho do justo e do ímpio, podem se cruzar. O justo contudo, não compactua, não assenta, não permanece nele.

Em suma, o caminho do justo anda em contramão  ao conselho dos ímpios, ao caminho dos pecadores e à roda dos escarnecedores. Ele está convencido de que todos os caminhos ímpios são miseráveis. Eles “não são assim” – diz-se - tanto na conduta como na felicidade. Mas é só isso? Ou seja: o justo é aquele que evita o mal? O que o Salmo diz positivamente do caminho do justo?

No nosso meio evangélico, por uma leitura viciada, é comum identificarmos a impiedade como algo do lado de fora da igreja; e de nos identificamos com os justos. Mas o Salmo diz que o caminho do justo é o de meditação na lei de Deus: “sua plena satisfação está na lei do SENHOR, e na sua lei medita, dia e noite!”. Esse é retrato do justo. E isso quer dizer:

i)A suma e substância de todo Salmo consiste em quem são bem aventurados os que aplicam seus corações a buscar a sabedoria celestial”.

A pergunta que devemos nos fazer, então, é: temos tido plena satisfação da lei do Senhor? Meditamos nela com afinco? Buscamos nela sabedoria? Derivamos dela nossas convicções, nossos valores?

A vida justa está intimamente ligada ao viver conforme instruído por Deus. E o caminho do justo vs 6, é o justo caminho.

O justo deixa alguns caminhos (que já foram os seus), evita alguns, e passa ligeiro por outros. O caminho do justo é um caminho sólido, que escolhe suas companhias. Em contraposição a todas as companhias que evita, ele descobre na Palavra, uma companhia digna.

Bem aventurado o que vive na companhia do Senhor!


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