segunda-feira, 18 de julho de 2011

OS HOMENS TEM QUE SER SUPER HERÓIS?



Não importa a profissão que o homem tenha, todos estão debaixo de grande pressão, e um número cada vez maior está desistindo de lutar e continuar sua tarefa de viver. A taxa de suicídio de homens é duas vezes e meia maior do que a de mulheres. Os homens sofrem mais com estresse do que as mulheres, isso numa proporção de duas a quatro vezes.

Os homens assumem coisas demais e se esforçam para aparecerem super heróis. Todos esperam que sejamos bem sucedidos como provedores de nossa casa e de nossa família, que sejamos pais amorosos e dedicados, bons filhos para nossos pais já com idade avançada, e que façamos tudo isso ao mesmo tempo que sejamos bons membros em nossas igrejas e exemplos em nossa comunidade.

A sociedade exige homens bem sucedidos e nós envolvidos por essa cobrança nos desgastamos acima das nossas capacidades para desempenhar o papel de vitorioso.

A sociedade avalia os homens e as mulheres através de padrões distintos e injustos. A mulher vale de acordo com sua beleza, pelo quanto é atraente. Os homens são medidos de acordo com seu sucesso e por quanto possui em dinheiro. Você já notou que a sociedade criou termos ofensivos próprios para os homens; perdedor, cansado, mole, parasita, etc... Essas palavras ofensivas são usadas para homens que a sociedade julga serem de pouco valor, porque olham para sua aparente falta de sucesso.

A sociedade recompensa os fortes, os sonhadores, os fortes e os confiantes e isola aqueles que são inseguros (os que parecem ser fracos).

O problema é que sempre damos crédito ao que a sociedade diz, que o valor pessoal é determinado pelo sucesso.
Você precisa ganhar sempre; se não, receberá o rótulo de perdedor.

Ser vencedor tem um preço. E o preço é fadiga e depressão. Esses são os perigos físicos para nós, mas também perdemos a alegria de viver e diminuem nossa produção em todas as áreas de nossa vida.

Mais forte do que a cobrança da sociedade no sucesso dos homens é como caímos na armadilha e adotamos a postura de super herói. Muitos de nós ficam profundamente preocupados quando nossas igrejas desenvolvem algum trabalho evangelístico, o que acarretará em vinda para a igreja pessoas cheias de problemas e crises. Um trabalho evangelístico atrai pessoas “anormais”.

O problema é que cristãos normais não enxergam que pessoas boas podem fazer coisas ruins. Quando líderes cristãos conceituados, maduros e de sucesso são descobertos em seus pecados nos chocam, nos deixam desiludidos e desesperançados.

Nós da comunidade cristã olhamos demais para o sucesso, e zombamos das fraquezas e do fracasso.

Quando enfrentamos dificuldades com a tentação ou o fracasso, esperamos substituí-los rapidamente pela vitória.

Alguns dizem “você pode ir do fracasso ao sucesso em 30 segundos”. Não sei o que você pensa sobre isso, mas os fracassos que enfrento não é possível que eu os pule em apenas 30 segundos.

Os homens que vivem neste tipo de vida são vulneráveis. Ao invés de assumirmos quem somos dizemos: “isso não pode acontecer comigo”.

A Palavra de Deus nos exorta diversas vezes a não confiarmos na nossa força. Somos cobrados a reconhecer nossa fraqueza, em vez de disfarçá-la. Somos sempre ajudados pelo Senhor sempre que nos lembramos que somos fracos. Quando pensamos que somos fortes, que estamos além das fraquezas e do fracasso, estamos prestes a cair.

Esse falso orgulho afligiu a igreja de Laodicéia no Novo Testamento. Jesus os repreende por se considerarem ricos e não terem necessidade de nada. O Senhor lhes diz: “Você é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e está nu”. O homem sábio vê a si como alguém necessitado.

Paulo tinha um passado de conhecimento teológico extraordinário como fariseu filho de fariseu. Falou com Deus face a face em uma visão. Mas fez uma oração maravilhosa pedindo a Deus que o livrasse do espinho na carne. Deus o respondeu de uma forma inesperada. Não, essa foi a resposta. Disse o Senhor; “Paulo Eu não tirarei sua fraqueza, minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.2 Co. 12:9

O que Paulo declarou? Ele disse: “Eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. ... Pois, quando sou fraco é que sou forte”. 2 Co 12:9,10

Temos que olhar para a condição em que vivemos, apesar de Cristo viver em nós e sermos novas criaturas, permanecemos mistos, quer dizer, vivemos com a nova e a velha natureza. Essa nossa natureza velha é que queremos que nunca ninguém descubra, ela nos empurra para o pecado e a destruição.

Nós cristãos nos referimos a velha natureza da boca para fora, achamos que ela foi domesticada, e que agora somos cristãos dedicados. Nós falam os: “deixei os meus dias de pecado pra trás, agora sou nova criatura e não peco mais, não sou mais capaz de cometer algum pecado terrível.

Mas precisamos entender que temos um lado sombrio, uma inclinação para o mal que nunca será erradicada nesta vida. Na carta que escreveu aos Éfesos Paulo os advertiu que mesmo depois de nos tornarmos cristãos, nosso lado obscuro (o velho eu) torna-se ainda mais corrupto, e não melhor do que era. Efésios 4:22. Nós cristãos somos capazes de cometer atos horríveis quanto qualquer outra pessoa.

Na carta de João vemos que ele coloca as coisas bem claras: I João 1:8 – Se afirmamos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. O apóstolo Paulo quando confessa sua própria luta com seu lado sombrio no capítulo 7 de Romanos ”Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo”. Romanos 7:19

Nós seremos assim até o dia que morrermos.

Muitos de nós passaram anos de sua vida tentando melhorar o visual e fazer coisas para esconder o lado sóbrio e mostrar apenas o nosso lado bom.

Precisamos tomar cuidado pois na igreja podemos nos tornar mais espertos em nos parecer bons ao invés de nos tornar santos.

Deus quer transformar nosso caráter, mas estamos ocupados demais gastando tempo e energia para parecermos bons.

Podemos passar anos de nossas vidas gastando todo o tempo imaginando que vamos receber louvor, afirmação e aprovação se nos dedicarmos a agradar todo mundo. Certamente receberemos muitos elogios pelo caminho da vida mas eles não serão suficientes para preencher nosso vazio.

Os fariseus eram dependentes de aprovação nos dias de Jesus. João 12:43 – Preferiam a aprovação dos homens do que a aprovação de Deus”.

Tudo começa a mudar na nossa vida quando deixamos de nos preocupar com o que as pessoas acham de nós.

Pelo menos 5 problemas aparecem em nós quando buscamos agradar as pessoas em busca de aprovação.

1- Nunca conseguimos dizer não
2- Nossos atos passam a ser guiados pela culpa. Fazemos coisas porque tememos as conseqüências, em vez de as fazermos porque realmente queremos.
3- Não experimentamos a afirmação do nosso verdadeiro eu. O que queremos ao agradarmos as pessoas, aprovação e a afirmação, nunca recebemos. Como vivemos para agradar os outros, nossa verdadeira identidade está presa atrás de um falso eu, o verdadeiro está oculto, não pode ser afirmado.
4- Não conhecemos a pessoa maravilhosa que Deus criou e deseja que sejamos. Passamos a vida tentando ser outra pessoa.
5- Agradar as pessoas é uma forma de idolatria. Estamos fazendo das pessoas o centro do universo em vez de Deus.
 

Como melhorar nossa vida

Como os homens presos na armadilha do herói encontram liberdade?
Destruindo a armadilha e construindo um modelo baseado na visão de Deus para eles.


COMO FAZER ISSO?

1 – Seja o que Deus quer que você seja. Viva a visão que Deus tem de você.

Queremos agradar os outros devido nossa auto-imagem negativa e nosso debilitado valor próprio.

Quando um número grande de pessoas dizem que gostam e que precisam de nós nos sentimos bem em relação a nós mesmos.

O problema é que esta motivação está vindo da nossa sensação de que somos defeituosos e que não somos suficientemente bons.

Precisamos para de buscar nos outros; esposa, amigos, filhos, chefes, nosso senso de valor pessoal, e em vez disso, assumir a visão de Deus para nós que nos é revelada em sua Palavra.

Salmos 139 celebra a elevada estima que Deus tem por nós, seus filhos.

Fomos planejados pelo próprio Criador, Ele nos diz: “Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção”

Precisamos orar pedindo graça de Deus para experimentar:

a- A plena aceitação
b- A crença de que cada um de nós é um exemplo maravilhoso da criação de Deus, de que Ele fez um bom trabalho em nós.

2- Abandone a necessidade compulsiva de ser perfeito

Alguém já disse que o perfeccionista é alguém que carrega grandes dores... e as lança sobre os outros.

O Plano de Deus por toda a história tem feito uso de pessoas imperfeitas.

Davi fracassou terrivelmente.

Moisés fracassou mas foi honrado como um dos grandes líderes da Bíblia.

Pedro fracassou mas foi honrado por Jesus.

Isso não quer dizer que sempre podemos justificar o fracasso, seja moral ou de outro tipo. Mas isso quer dizer que o perfeccionismo motivado pelo medo não é saudável; a necessidade de parecer perfeito impede que reconheçamos a necessidade de pedir ajuda. Quando abrimos mão da ajuda, normalmente estamos apenas alguns passos da derrota.

Quando abrimos mão da necessidade de sermos perfeitos, abrimos a porta para uma cura profunda.

Livro: CONFLITOS SECRETOS DOS HOMENS
De Patrick Means - Editora Vida

ENVIADO POR:  UZIEL CERQUEIRA
 

E POR FALAR EM FLORES...




Sinto-me parte de uma tradição teológica agostiniana, que diz que Deus dá a graça que convida, impulsiona, direciona, inspira, revitaliza, mas também que confirma e garante. Há uma graça que nos faz permanecer e perseverar.

A vida cristã tem o tempero do desconhecido, mas também as garantias da Fé e a inspiração da Esperança.

Já está consumado! E somos mais que vencedores.

Mas ela é mais que um jogo que se joga apenas para cumprir tabela, como quando um time é campeão antes do fim do campeonato.

A despeito das garantias, a vida cristã não deixa de ser uma aventura.

É assim, porque desconhecemos o amanhã e sabemos muito pouco sobre o hoje. Nosso conhecimento é, em todas as dimensões, "em parte". E é assim porque, fora da Fé, tudo nos é incerto.

Além disso, não temos controle sequer sobre nosso próprio corpo, ou alma. Nós mesmos, às vezes, somos levados por forças desconhecidas.

O mundo é assim para nós: inseguro, desconhecido, incontrolável...

Isto é, ele é um perfeito cenário de uma aventura!

Além do mais, há, como em toda aventura, as intempéries, os vilões, as dificuldades...

Parece tudo muito hostil, e, como que por seleção natural, temos que lutar para sobreviver, para nos adaptar. Se não, essa maré nos arrasta e arrasa.

Permanecer é luta!

Não é a toa que a busca mais universal entre os humanos é essa: de segurança.

Vivemos sob fogo! Por isso somos todos, adultos e crianças, temerosos. Ansiamos por colo, por segurança, por proteção. Temos muito medo de não sermos aceitos, amados e queridos.

Que aventura!

E como essa aventura é "apimentada" com o tempero da fé! Às vezes a fé não acalma, mas trás suas próprias tempestades e agitações.

Ah, que mundo!
É frio lá fora!

Mas um novo caminho se abre em nós, a partir de dentro, quando andamos com Aquele que observava o cuidado do Pai nos lírios.

Com ele, passamos a atentar melhor para o mundo, discernindo-lhe as flores.

E o mundo não foi melhor para Jesus: o mundo que ele viveu, expulsou-lhe.

Só na mente de alguém como Jesus para haver essa associação de fé e flores. De flores e segurança. De flores e Paz.

Se há jardins, há também o Castelo Forte, o Esconderijo, o Escudo!

Se há jardins, há o Pai!

Se há algo como as flores, há também um Jardineiro da nossa vida.

Se há o Jardineiro, há de haver flores, espalhadas pelo caminho.

Para vê-las, não é preciso vê-las "pela fé". Não! A fé só nos faz enxergar, os lírios estão lá. Pela fé, vemos nelas, o Pai.

A alma do que crê é, pois, florida.

E a alma que foi uma vez florida é aquela que se ajunta ao Jardineiro num empreendimento de fazer com que as "rosas vençam os canhões".

"Observai os lírios; eles não fiam, nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles" (Lucas 12.27). 

Enxergar o Pai, nas rosas, dá um segurança que os canhões não podem dar.

Salomão, cercado de uma glória real, tinha cavalos de mais para que neles não confiassem (Salmos 20.7). Era sábio demais, para que desconfiasse de si mesmo. Por isso não podia estar entre àqueles simples e pequeninos, a quem Deus se aprouve de  Revelar-se numa rosa (Lucas  10.21).

Você tem observado as rosas do cuidado de Deus para com sua vida? Você tem observado que tais "rosas" são, na sua vida, mais bem vistas nas coisas simples e singelas - como os lírios, que nas pomposidades salomônicas?

Observai, pois, os lírios!

Eric

Fonte: AQUI!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Contracultura - a alternativa cristã



Penso que nenhuma outra expressão resume melhor a intenção de Jesus, ou indica mais cla­ramente o seu desafio para o mundo moderno, do que a expressão "contracultura cristã". Vou lhes dizer por quê.
Os anos que se seguiram ao fim da segunda guerra mundial, em 1945, foram marcados por um idealismo inocente. O horrível pesadelo terminara. "Reconstrução" era o alvo universal. Seis anos de destruição e devastação eram coisas do passado; a tarefa agora era construir um novo mundo de cooperação e paz. Mas a irmã gêmea do idealismo é a desilusão, desilusão com aqueles que não participam do ideal, ou (pior) com os que se lhe opõem, ou (pior ainda) com os que o traem. E a desilusão com o que é continua alimentando o idealismo do que poderia ser.
Parece que atravessamos décadas de desilusão. Cada geração que se levanta odeia o mundo que herdou. Às vezes, a reação tem sido ingênua, embora não possamos dizer que tenha sido hipócrita. Os horrores do Vietnã não terminaram com aqueles que distribuíam flores e rabiscavam o seu lema "Faça amor, não faça guerra", embora o seu protesto não tenha passado despercebido. Hoje em dia, há pessoas que repudiam a opulência ávida do ocidente, que parece ficar cada vez mais gordo, através do esbulho do meio-ambiente natural, ou através da exploração de nações em desenvolvimento, ou através de ambas as coisas ao mesmo tempo; essas pessoas exprimem a totalidade da sua rejeição vivendo com simplicidade, vestindo-se negli­gentemente, andando descalças e evitando o desperdício. Em lugar do simulacro da socialização burguesa, estão famintas de relacionamentos de amor autênticos. Desprezam a superficialidade, tanto do materialismo descrente como do conformismo religioso, pois sentem que há uma "realidade" impressionante muito maior do que essas trivialidades, e buscam essa dimensão "transcendental" ilusória através da meditação, de drogas ou do sexo. Abominam até o próprio conceito do corre-corre da sociedade de consumo e acham que é mais honesto "cair fora" do que participar. Tudo isso é sintoma da incapacidade da gera­ção mais jovem de adaptar-se ao status quo ou de aclimatar-se à cultura prevalecente. Não se sentem à vontade. Estão alie­nados.
E em sua busca de uma alternativa, "contracultura" é a pala­vra que usam. Ela expressa um amplo raio de ação de idéias ou ideais, experiências e alvos.
De um certo modo, os cristãos consideram esta busca de uma cultura alternativa um dos mais promissores, e até mesmo exci­tantes, sinais dos tempos. Pois reconhecemos nisso a atividade do Espírito, o qual, antes de confortar, perturba; e sabemos a quem a busca deles conduzirá, se quiserem encontrar a resposta. Na verdade, é significativo que Theodore Roszak, encontrando dificuldade para expressar a realidade que a juventude contem­porânea procura, alienada como está pela insistência dos cien­tistas quanto à "objetividade", sente-se obrigado a recorrer às palavras de Jesus: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Mas, ao lado da esperança que esta disposição de protesto e busca inspira aos cristãos, há também (ou deveria haver) um sentimento de vergonha. Pois, se a juventude de hoje está à procura das coisas certas (significado, paz, amor, realidade), ela as tem procurado nos lugares errados. O primeiro lugar onde deveriam procurar é um lugar que normalmente ignoram, isto é, a Igreja. Pois, com demasiada freqüência, o que vêem nas igrejas não é a contracultura, mas o conformismo; não uma nova sociedade que concretiza seus ideais, mas uma versão da velha sociedade a que renunciaram; não a vida, mas a morte. Prontamente endossariam o que Jesus disse de uma igreja do primeiro século: "Tens nome de que vives, e estás morto".
Urge que não somente vejamos, mas também sintamos, a grandeza dessa tragédia, pois, na medida em que uma igreja se conforme com o mundo, e as duas comunidades pareçam ser meramente duas versões da mesma coisa, essa igreja está contra­dizendo a sua verdadeira identidade. Nenhum comentário po­deria ser mais prejudicial para o cristão do que as palavras: "Mas você não é diferente das outras pessoas!"
O tema essencial de toda a Bíblia, desde o começo até o fim, é que o propósito histórico de Deus é chamar um povo para si mesmo; que este povo é um povo "santo", separado do mundo para lhe pertencer e obedecer; e que a sua vocação é permanecer fiel à sua identidade, isto é, ser "santo" ou "diferente" em todo o seu pensamento e em todo o seu comportamento.
Foi assim que Deus falou ao povo de Israel logo depois que o tirou da escravidão egípcia e fez dele o seu povo especial através da aliança: "Eu sou o Senhor vosso Deus. Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis se­gundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Fareis segundo os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles: Eu sou o Senhor vosso Deus." Este apelo que Deus fez a seu povo, é preciso notar, tanto começou como terminou com a declaração de que ele era o Senhor seu Deus. Pelo fato de ser o seu Deus, com quem eles firmaram um pacto, e porque eles constituíam o seu povo especial, tinham de ser diferentes de quaisquer outras pessoas. Tinham de seguir os mandamentos de Deus e não os padrões daqueles que os cercavam.
Através dos séculos seguintes, o povo de Israel continuou se esquecendo da sua singularidade como povo de Deus. Embora nas palavras de Balaão fosse "povo que habita só, e (que) não será reputado entre as nações", na prática, entretanto, eles con­tinuaram assimilando-se aos povos que os rodeavam: "Antes se mesclaram com as nações, e lhes aprenderam as obras". Por isso exigiram que um rei os governasse "como todas as nações", e quando Samuel os advertiu com base no fato de ser Deus o rei deles, foram obstinados em sua insistência: "Não, mas tere­mos um rei sobre nós. Para que sejamos também como todas as nações." Pior ainda do que o estabelecimento da monarquia foi a sua idolatria. "Seremos como as nações", diziam para si mesmos, ". . . servindo ao pau e à pedra." Por isso Deus con­tinuou lhes enviando os seus profetas para que lembrassem quem eram e para insistir com eles a seguirem o caminho de Deus. "Não aprendais o caminho dos gentios", falou-lhes através de Jeremias e Ezequiel, "não vos contamineis com os ídolos do Egito; eu sou o Senhor vosso Deus." Mas o povo de Deus não queria ouvir-lhe a voz, e o motivo específico apresentado, pelo qual o juízo de Deus caiu primeiro sobre Israel e, depois, cerca de 150 anos mais tarde, sobre Judá, foi o mesmo: "Os filhos de Israel pecaram contra o Senhor seu Deus . . . andaram nos esta­tutos das nações . . . Também Judá não guardou os manda­mentos do Senhor seu Deus; antes, andaram nos costumes que Israel introduziu."
O Sermão do Monte (...) descreve o arrependimento (metanóia, a total transformação da mente) e a retidão, que fazem parte do reino; isto é, descreve como ficam a vida e a comuni­dade humana quando se colocam sob o governo da graça de Deus.
E como é que ficam? Tornam-se diferentes! Jesus enfatizou que os seus verdadeiros discípulos, os cidadãos do reino de Deus, tinham de ser inteiramente diferentes. Não deveriam tomar como padrão de conduta as pessoas que os cercavam, mas sim Deus, e assim provar serem filhos genuínos do seu Pai celestial. Para mim, o texto-chave do Sermão do Monte é 6:8: "Não vos asse­melheis, pois, a eles." Imediatamente nos faz lembrar a palavra de Deus a Israel, na antigüidade: "Não fareis como eles." É o mesmo convite para serem diferentes. E este tema foi desenvol­vido através de todo o Sermão do Monte. O caráter deles teria de ser completamente diferente daquele que era admirado pelo mundo (as bem-aventuranças). Deveriam brilhar como luzes nas trevas reinantes. A justiça deles teria de exceder à dos escribas e fariseus, tanto no comportamento ético quanto na devoção religiosa, enquanto que o seu amor deveria ser maior, e a sua ambição mais nobre do que a dos pagãos vizinhos.
Não há um parágrafo no Sermão do Monte em que não se trace este contraste entre o padrão cristão e o não-cristão. É o tema subjacente e unificador do Sermão; tudo o mais é uma variação dele. Às vezes, Jesus contrasta os seus discípulos com os gentios ou com as nações pagãs. Assim, os pagãos amam-se e saúdam-se uns aos outros, mas os cristãos têm de amar os seus inimigos (5:44-47); os pagãos oram segundo um modelo, com "vãs repetições", mas os cristãos devem orar com a humilde reflexão de filhos do seu Pai no céu (6:7-13); os pagãos estão preocupados com as suas próprias necessidades materiais, mas os cristãos devem buscar primeiro o reino e a justiça de Deus (6:23, 33).
Em outros pontos, Jesus contrasta os seus discípulos, não com os gentios, mas com os judeus, ou seja, não com pessoas pagãs mas com pessoas religiosas; especificamente, com os "escribas e fariseus".
(...)
O Sermão do Monte é o esboço mais com­pleto, em todo o Novo Testamento, da contracultura cristã. Eis aí um sistema de valores cristãos, um padrão ético, uma devoção religiosa, uma atitude para com o dinheiro, uma ambição, um estilo de vida e uma teia de relacionamentos: tudo completa­mente diferente do mundo que não é cristão. E esta contra­cultura cristã é a vida do reino de Deus, uma vida humana real­mente plena, mas vivida sob o governo divino.

John Stott