sábado, 3 de dezembro de 2011

VOCAÇÃO




VOCAÇÃO
- Perspectivas Bíblicas e Teológicas

KLÉOS MAGALHÃES LENZ CÉSAR

EDITORA ULTIMATO
  
  
1.
VOCÊ É VOCACIONADO

Você é vocacionado. Você não nasceu por acaso, não existe apenas por existir. Há um propósito divino na sua passagem pela terra. Como já dizia Salomão, “O Senhor fez todas as coisas para determinados fins” (Pv 16.4). E você só se sentirá plenamente feliz e realizado quando cumprir esse desígnio.
Você é vocacionado. Não entenda a vocação como privilégio apenas de um grupo, de uns poucos escolhidos. Não pense que somente os pastores e os missionários são vocacionados, e que os demais fazem uma coisa aqui e outra acolá, sem maior comprometimento. Vocação é um termo teologicamente mal entendido. Como diz Valdir R. Steuernagel, alguns sentem nele apenas cheiro de espiritualidade 1. Vocação tem um sentido muito mais abrangente. Podemos dizer que ela é universal; de alguma maneira, todo ser humano é vocacionado, em especial o redimido por Cristo. Na verdade, a vocação para servir é elemento intrínseco ao homem, faz parte de sua personalidade, é o plano de Deus para o crente. Estamos todos comprometidos com o reino de Deus.
Martinho Lutero acreditava na vocação universal com um conceito tão amplo quanto possível. O grande reformador dizia: “Todo crente tem uma vocação na vida porque tem uma posição e, nesta posição, ele encontra sempre oportunidades de servir”.
O povo de Deus não tem que ficar esperando um chamado extra-especial, uma sarça que arde sem se consumir. Pela sua própria natureza, a igreja já é um povo chamado, separado, eleito e designado para proclamar as boas novas. O apóstolo Pedro pensava assim quando declarou: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, vós, sim, que antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus...” (1 Pe 2.9-10).
Esse mesmo Pedro chegou a afirmar que alguns filhos de Deus são chamados para fazer o bem, o que, às vezes, resulta em sofrimento. O sofrer parece ser inerente a determinadas vocações. Cristo, no cumprimento de sua missão, sofreu por causa dos nossos pecados (1 Pe 2.20-21).
Paulo parecia apoiar o modo como Pedro entendia a vocação (Fp 1.29). O evangelista Lucas, em Atos dos Apóstolos, deixa claro que a igreja primitiva não considerava vocacionados apenas os doze apóstolos, mas também os diáconos, os presbíteros, os mestres, os evangelistas, os trabalhadores, os profissionais - todos aqueles que, de alguma forma, serviam a Deus, à igreja e ao próximo. Francis Foulkes comenta o texto de Efésios 4.7:

Ninguém tem todos os dons, e também é verdade não existir nenhum membro do corpo que não tenha alguma tarefa espiritual a cumprir e o respectivo dom espiritual necessário para executá-la. Cada um, e não somente os ministros ou os líderes leigos, recebe essa graça “segundo a proporção do dom de Cristo”2.

O reformador João Calvino também aceitava a vocação como universal:

A Escritura usa esta palavra vocação para mostrar que uma forma de viver não pode ser boa nem aprovada, a não ser que Deus seja o seu autor. E esta palavra vocação também quer dizer chamado; e este chamado implica em que Deus faça sinal com o dedo e diga a cada um: quero que vivas assim ou assim3.

Você é vocacionado. Não tenha nenhuma dúvida a respeito. Deus o trouxe à existência para servir, sempre com um objetivo, um propósito, um desígnio a cumprir. Como já dissemos, o Senhor não criou seres ociosos. O que você tem de descobrir é o tipo de missão que Ele lhe confiou. Não fique de fora! Ajuste-se ao propósito vocacional da igreja de Cristo na terra. Faça isso e estará cumprindo o desejo divino para sua vida. E, cumprindo-o, seja feliz.


O que sabemos sobre vocação?

O que sabemos sobre vocação? Quais são seus fundamentos bíblicos e teológicos? Quais as suas raízes etimológicas? Como se processa o chamado de Deus? Como saber que somos vocacionados? Na vocação, quem dá o primeiro passo: Deus ou o homem?
Várias indagações inquietam a mente do cristão quando se sente chamado. Procurando situar-se nos propósitos eternos de Deus para uma existência útil e produtiva, é comum que o crente fique temporariamente confuso.


Aspectos etimológicos

Para compreendermos melhor a doutrina da vocação, é necessário que comecemos por examinar seu aspecto etimológico, ainda que sinteticamente.

A PALAVRA “VOCAÇÃO”. Na literatura neotestamentária, a palavra vocação tem origens gregas no verbo kaleo e suas variações (o substantivo klêsis e o adjetivo kletós)4.
O verbo kaleo significa eu chamo, nomeio, convoco: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados (eklêthete)” (Ef 4.1).
O substantivo klêsis significa vocação, chamado, convite: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação (klêsin)” (1 Co 1.26).
O adjetivo kletós significa chamado, convocado: “de cujo número sois também vós, chamados (kletòi) para serdes de Jesus Cristo” (Rm 1.6).
Segundo Lothar Coenen, em artigo no Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, o termo kaleo surge no Novo Testamento Grego 148 vezes e a palavra klêsis, onze. Paulo usa kaleo 29 vezes, klêsis, oito e kletós, sete.
Esses termos quase sempre são empregados com o sentido de vocação procedente da parte de Deus. É o Senhor dirigindo-se ao homem, convocando-o para a salvação e para o serviço do seu reino. É o Pai dizendo em tom soberano (e não apelativo): Venha, filho! Assim, o sentido original da vocação divina não soa nas Escrituras como um gentil convite da parte do Deus misericordioso e amável, ao qual o homem pode ou não atender, mas como um chamado, uma convocação, uma intimação irrecusável5.

A PALAVRA “HIPERETOLOGIA”. A Teologia Pastoral ou Pragmática nomeia a Doutrina da Vocação (que estuda os fundamentos bíblicos do chamado, suas variadas implicações e a resposta humana) com o termo técnico Hiperetologia (hipereto + logia), procedente do verbo grego hypereteo, que significa servir, ministrar, ser útil; ou do substantivo hyperêtes, servo, auxiliar, assistente, soldado.
Klaus Hess diz que hyperêtes tem um significado original de remador do rei, de onde procede mais diretamente o sentido de servo, ajudante, auxiliar6.
Nas páginas do Novo Testamento, hyperêtes é traduzido por palavras e expressões diversas, tais como servo, oficial de justiça, guarda, ministro: “Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça (hyperete)” (Mt 5.25); “Ora, os servos e os guardas (hyperetai) estavam ali” (Jo 18.18 e 22); “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo (hyperetas Christou)” (1 Co 4.1). 
“Hiperetologia” ou “Clesiologia”? O termo Clesiologia (klêsis + logia) é mais apropriado do que Hiperetologia para nomear tecnicamente a teologia da vocação, visto que Clesiologia provém de klêsis (= vocação, chamado). A semelhança gráfica entre Clesiologia e Eclesiologia (de ekklesía = igreja, assembléia, povo chamado por Deus, vocacionado para cumprir os desígnios divinos no mundo), que estabelece certa afinidade entre as duas disciplinas, é interessante e própria.
O termo Eclesiologia também procede da palavra klêsis. Clesiologia estudaria a vocação, e Eclesiologia, a natureza, responsabilidade e missão de um povo eleito e chamado: a ekklesia.


Definições e conceitos de vocação

O que é vocação? Como a definem os lexicólogos, os teólogos e os cristãos em geral? Examinemos o assunto.

DEFINIÇÃO LINGÜÍSTICA. A definição lingüística generaliza a palavra vocação. Entende-a apenas como um termo da língua portuguesa que significa chamado, talento, tendência. Para a Hiperetologia, entretanto, essa definição é secular e restrita.
Assim, Aurélio Buarque de Holanda define vocação desta forma: 1. Ato de chamar; 2. Escolha, chamamento, predestinação; 3. Tendência, predisposição, pendor; 4. Talento, aptidão7.
Caldas Aulete expressa-se quase do mesmo modo: “Vocação é tendência, propensão ou inclinação para qualquer estado, profissão, ofício, etc. Disposição natural do espírito, índole, talento”8.
Fernando Bastos de Ávila detalha um pouco mais: Vocação é a disposição geral do indivíduo pela qual ele se sente atraído a um determinado gênero de vida, a uma carreira ou profissão. A disposição é devida tanto a qualidades inatas como a influências do meio social, principalmente da família9.

DEFINIÇÃO HISTÓRICA. A definição histórica acrescenta elementos relacionados ao emprego da palavra na cultura e nos costumes mais remotos. Bastos de Ávila faz uma breve referência a esse uso:
Originalmente, o termo se referia, de modo exclusivo, a uma disposição para a vida sacerdotal e religiosa. Nesse sentido, vocação significa um chamamento divino a um gênero de vida que permita dedicação total às coisas de Deus...10
Américo Justiniano Ribeiro diz que o monasticismo do século XV ensinava que os cristãos estavam divididos em dois grandes grupos: os religiosos e os leigos11. Os religiosos, compostos de sacerdotes e freiras, eram aqueles que procuravam a perfeição espiritual, vivendo acima da natureza. Os leigos eram os que viviam uma vida mais humana. O termo vocação só era usado em relação aos primeiros. Historicamente, só os religiosos eram considerados vocacionados por Deus. 

DEFINIÇÃO POPULAR. A definição cristã popular é a livre expressão do pensamento religioso comum, às vezes sem conhecimento da doutrina bíblica e baseada em conceitos distorcidos e restritos.
Em geral, os cristãos entendem vocação como um chamado especial para o exercício de uma missão pastoral numa determinada igreja, ou para uma tarefa missionária em algum país distante, ou ainda para o desempenho de talentos artísticos. Alguns julgam que só pastores e missionários são vocacionados. Essa opinião talvez seja um reflexo inconsciente de refugos do monasticismo do século XV.
A definição popular muitas vezes confunde vocação com dom e talento, termos que não têm o mesmo significado. 
Definição teológico-confessional. A definição teológico-confessional procura mostrar o que as outras não mostram: o aspecto bíblico, a aplicação e implicação espirituais do termo nos credos eclesiásticos, bem como a interpretação dos teólogos, mestres e estudiosos das Escrituras Sagradas.
Observe uma definição confessional clássica: “Vocação para o ofício na igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a aprovação do povo de Deus por intermédio de um concílio”12.
É novamente Américo J. Ribeiro quem resume muito bem o pensamento teológico desta forma: “Vocação é o chamado de Deus ao homem para que ele, primeiramente, se torne parte do corpo de Cristo, que é a igreja, e, em segundo lugar, para que o sirva em todas as suas relações com o próximo”13. Xavier Leon-Dufour acrescenta:
Vocação é o chamado que Deus dirige ao homem a quem Ele escolheu para si e que destina a uma obra especial no seu plano de salvação e no destino do seu povo. Na origem da vocação há, portanto, uma eleição divina; no seu termo, uma vontade divina a cumprir. Não obstante, a vocação acrescenta algo à eleição e à missão: um chamado pessoal dirigido à consciência mais profunda do indivíduo, produzindo uma reviravolta na sua existência, não só nas suas condições exteriores, mas até no coração, fazendo dele um outro homem14.
Assim, vocação é o chamado divino dirigido ao homem. Todo ser humano é, de alguma forma, vocacionado. Os eleitos são especialmente chamados para receber a salvação que lhes é oferecida em Cristo Jesus, para agregar-se à igreja de Deus e para colocar-se inteiramente à sua disposição, servindo-o em algum tipo de missão que Ele mesmo determinará. Na vocação, Deus deseja promover a sua glória, proclamar seu plano salvador, executar seus propósitos no governo sobre as criaturas e suas ações, bem como cumprir as promessas que fez ao seu povo. O homem é convocado para ser o instrumento dessa proclamação, desse governo e dessa providência.
Vocação não significa exatamente o mesmo que talento e dom, embora, nas Escrituras, pareça haver uma certa sinonímia entre essas palavras (2 Tm 1.6). Em termos gerais, vocação é o chamado divino propriamente dito; talento é a aptidão ou capacidade existente na própria natureza do indivíduo como um conjunto de habilidades concedidas no ato criador, independentemente de fé; dom é a suprema dádiva salvadora de Deus aos homens, em Cristo Jesus, e a concessão de capacidades especiais (carismas) para o desempenho do serviço divino.
Vocação é um ato de confiança da parte de Deus ao vocacionado. Paulo disse que o Senhor “nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5.19; 1 Ts 2.4; Tt 1.3). Pelo exercício da vocação, o homem torna-se um instrumento da vontade e dos propósitos divinos (Sl 77.20; At 9.15-16).
  

NOTAS

1 Jesus Cristo, senhorio, propósito e missão, p. 86.
2 Efésios - introdução e comentário, p. 95.
3 O pensamento econômico e social de Calvino, p. 528.
4 Greek New Testament.
5 Este aspecto é amplamente discutido no capítulo 4.
6 Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, vol. IV, p. 450.
7 Novo dicionário Aurélio de língua portuguesa (1986).
8 Dicionário contemporâneo da língua portuguesa (1968).
9 Pequena enciclopédia de moral e civismo (1967).
10 Idem.
11 A doutrina da vocação, p. 24.
12 Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil (CI/IPB, art. 108).
13 Op. cit., p. 11.
14 Vocabulário de teologia bíblica, p. 1.099-1.102, verbete vocação.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O GRANDE TECELÃO



Romanos 8.28

“Estamos certos de que Deus age em todas as coisas com o fim de beneficiar todos os que o amam, dos que foram chamados conforme seu plano” (King James).

"Sabemos que tudo quanto nos acontece está operando para o nosso próprio bem, se amarmos a Deus e estivermos nos ajustando aos planos dele". (VIVA)


***

Com os olhos da mente, vejo um edifício de aparência modesta na cidade de Varanasi, ao norte da Índia. Varanasi talvez seja mais famosa como o centro do hinduísmo, pois através da cidade corre o sagrado rio Ganges. Mas também possui uma merecida reputação por produzir os espetaculares e surpreendentes sáris que toda noiva no norte da Índia deseja usar no dia do casamento. Havendo participado de vários casamentos quando vivia em Déli, recordo-me bem de admirar essas magníficas obras de arte. As cores espetaculares praticamente explodem: surgem vermelhos que parecem ser a fonte de todas as outras tonalidades de vermelho, o azul-real que parece refletir os oceanos do mundo, verdes brilhantes que parecem tomar emprestado a cor das mais finas esmeraldas e emprestar seu lado mais suave a todos os gramados bem cuidados do mundo, e fios de ouro e prata que não apenas parecem de ouro e prata, mas que de fato são de ouro e prata. Todas essas cores são tecidas em padrões que alguém pensaria terem vindo da mais perfeita mente e do mais perfeito par de mãos. Sempre quis saber como eram feitos. Quem os criava e de que modo? 

Eu entrei num prédio e me dirigi a uma pequena sala lateral. Com características típicas indianas, o ambiente deixava muito a desejar, mas o produto final não era menos que uma obra de arte. De modo geral, um homem e seu filho fazem cada sári. O pai se senta numa plataforma mais alta, com grandes carretéis de linhas coloridas brilhantes ao seu alcance. O filho se senta no chão em posição de lótus (com aparente conforto e facilidade que só posso invejar — o primeiro desafio seria ficar nessa posição e o segundo levantar-se). O grupo usa roupas simples e básicas. Seus dedos se movem com agilidade, mas suas mãos jamais tocaram num creme hidratante. Eles se curvam sobre o trabalho e seus olhos se concentram no padrão que surge de cada movimento da lançadeira. 

Diante dos meus olhos, apesar de não surgir de imediato, aparece um grande desenho. O pai reúne alguns fios em sua mão, em seguida acena com a cabeça e o filho movimenta a lançadeira de um lado para outro. Mais alguns fios, outro sinal do pai, e mais uma vez o filho responde, movimentando a lançadeira. O processo parece quase um esforço de Sísifo em sua repetição, o silêncio quebrado poucas vezes por um comentário ou por algum visitante que interrompe para fazer uma pergunta sobre o padrão final. O pai sorri e tenta, num inglês estropiado, explicar a imagem que tem em mente, mas comparada com a magnificência do produto final, sua informação é apenas um balbucio. Sei que, se retornasse algumas semanas mais tarde — em certos casos, alguns meses depois —, veria os carretéis de linha quase vazios e um sári de mais de cinco metros de comprimento, de tirar o fôlego, em todo o seu esplendor. Durante todo o processo, o filho tinha um trabalho bem mais fácil. É possível que muitas vezes tenha se sentido entediado. Talvez suas costas tenham doído ou suas pernas adormecido. Talvez ele tenha desejado outras oportunidades na vida — algo que achasse mais estimulante ou satisfatório. Ele tem apenas uma tarefa, ou seja, movimentar a lançadeira de acordo com a indicação de seu pai, esperando aprender a pensar como o pai para que possa continuar os negócios no devido tempo. 

Já, durante todo o tempo, o desenho permanecia na mente do pai enquanto segurava os fios. Em poucos dias, esse sári seguirá seu caminho para uma loja em Déli, Bombaim ou Calcutá. Uma adorável jovem com sua mãe verá os sáris em exposição. Este irá prender seu olhar e ela exclamará: “Bohut badiya [que magnífico]! Khupsurat [que beleza]!” Um belo sári, porque um grande tecelão propositalmente assim o desenhou. Não muito depois, ele será enrolado em seu corpo, embelezando a adorável noiva. 

Ora, se um tecelão comum pode pegar uma porção de fios coloridos e criar uma vestimenta para embelezar a aparência, não seria possível o Grande Tecelão ter um projeto em mente para você, um projeto que lhe adorna, enquanto ele vai usando a sua própria vida para moldá-la segundo o seu propósito, utilizando todos os fios ao seu alcance?


***
 Ao começar a ver a mão de Deus em sua vida, você saberá que a obra realizada dentro e por meio de você é sob medida, peculiar. O projeto de Deus para a sua vida une cada fio de sua existência numa magnífica obra de arte. Cada fio é importante e possui um propósito específico. 

Oro para que, enquanto você lê estas páginas, veja os fios se unindo e saiba que Deus é verdadeiramente o Grande Tecelão de sua vida.

Ravi K. Zacharias

Trecho do Livro - O Grande Tecelão, Editora Shedd Publicações.

sábado, 22 de outubro de 2011

Na contramão do Mundo: de qual mundo? (ÚLTIMA)



b) O mundo hostil a Deus e escravizado pelos poderes das trevas. O uso mais claro do termo cosmos, no Novo Testamento, é predominantemente negativo. Ele se refere à humanidade, mas à humanidade em franca hostilidade contra Deus, personificada no inimigo de Jesus Cristo e em seus seguidores. A Palavra através da qual todas as coisas foram feitas veio ao mundo, mas “o mundo não O conheceu” (Jo 1:10). Ele veio como a luz do mundo (Jo 8:12, 9:5), para dar testemunho da verdade (Jo 18:37), mas “os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque suas obras eram más” (Jo 3.19). Foi uma rejeição coletiva. Mas foi a única atitude coerente com a natureza de um mundo alienado em relação a Deus – o mundo não pode receber o Espírito da verdade (Jo 14:17), o espírito carnal não pode submeter-se à lei de Deus (Rm 8:7). Essa é a tragédia do mundo, que se acha preso ao círculo vicioso de uma rejeição que o induz a odiar Cristo e seus seguidores (Jo 15:18, 24; 1 Jo 3:1, 13) e que, ao mesmo tempo, torna-o incapaz de reconhecer a verdade do Evangelho (Jo 9:39-41). A condição do mundo em sua rebelião contra Deus é tal que Jesus Cristo nem ora por ele (Jo 17:9).

Mas se explorarmos um pouco mais a fundo nossa análise do conceito de mundo nos escritos joaninos e paulinos, torna-se claro que por trás dessa rejeição de Jesus Cristo esconde-se a influência da forças espirituais hostis ao homem e a Deus. “O mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5:19). A “sabedoria do mundo”, caracterizada por sua ignorância de Deus, reflete a sabedoria doas “soberanos desta era”, os poderes das trevas, que crucificaram a Cristo (1 Co 1:20, 2:6, 8). A cegueira dos incrédulos ao Evangelho resulta da ação de Satanás, “o deus deste século” (2 Co 4:4). Apartados dessa fé, os homens ficam sujeitos ao espírito da época (zeitgeist), controlados pelo príncipe da potestade do ar (Ef 2:2). O mundo está sob a dominação dos espíritos rudimentares (Gl 4:3, 9; Cl 2:8, 20), os principados e potestades (Rm 8:38s; 1 Co 15:24, 26; Ef 1:21, 3:10, 6:12; Cl 1:16; 2:10, 15).

O retrato do mundo que emerge dos textos mencionados é confirmado pelo resto do Novo Testamento. Nele, como no Judaísmo do primeiro século, a presente era é concebida como o período em que Satanás e suas hostes receberam autoridade para governar o mundo. O universo não é um espaço fechado, em que se possa achar explicação para tudo, apelando às causas naturais. É antes a arena onde Deus – um Deus que age na História – empenha-se numa batalha com as potestades espirituais que escravizam os homens e bloqueiam sua percepção da verdade revelada em Jesus Cristo.

O diagnóstico da condição humana neste século não pode ser atirado, sem mais nem menos, na cesta de lixo, como se fora um derivativo de especulação apocalíptica comum entre os judeus da era neotestamentária. Como diz E. Stauffer: “No Cristianismo primitivo não há teologia sem demonologia”. E sem demonologia, a resposta para o problema do pecado tem de ser encontrada exclusivamente no homem, sem precisarmos tentar para o fato de que o homem é, ele próprio, a vítima de uma ordem que o transcende e que lhe impõe uma forma de vida perniciosa. O pecado (singular) não é a soma total dos pecados (plural) do homem. Pelo contrário: é uma situação objetiva que condiciona os homens e os força a cometer pecados. “Todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8:34). A essência do pecado é a mentira (“sereis como Deus” – Gn 3:5), e a mentira procede do Diabo, o “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8:44). O pecado, então, é um problema social e até mesmo cósmico, e não apenas individual. Os pecados pessoais – aqueles que, de acordo com Jesus, vêm “de dentro, do coração do homem” (Mc 7:21-22) – são ressonâncias de uma voz que vem da criação, a criação que “está sujeita à vaidade”, e que “será redimida do cativeiro da corrupção” (Rm 8:20-21).

Infelizmente, tem-se quase sempre como certo que a manifestação concreta da ação satânica entre os homens ocorre principalmente, ou mesmo exclusivamente, nos fenômenos limitados à esfera da possessão demoníaca, ou do esotérico. De modo que perdemos de vista a natureza demoníaca de todo o ambiente espiritual capaz de condicionar o pensamento e a conduta do homem. O conceito individualista de redenção é a conseqüência lógica de um conceito individualista de pecado, que ignora “tudo que está no mundo” (não unicamente no coração do homem), a saber, “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2:15-16). Numa palavra: esse conceito ignora a realidade do materialismo, quer dizer, a absolutização da era atual em tudo o que ela oferece: bens de consumo, dinheiro, poder político, filosofia, ciência, classe social, raça, nacionalidade, sexo, religião, tradição, etc.; o “egoísmo coletivo” (para tomar emprestada a frase de Niebuhr) que condiciona o homem a procurar a realização nas “coisas desejáveis” da vida; a Grande Mentira que consiste em dizer que o homem deriva o seu significado do fato de “ser como Deus, independente dele”.

Sob o domínio dos poderes das trevas, o mundo acha-se ao mesmo tempo sob o juízo de Deus. Embora Deus não tivesse enviado seu Filho para condenar o mundo mas para que o mundo, através dele, fosse salvo (Jo 3:17, cf. 12:47), o mundo é julgado por sua própria rejeição da luz da vida que raiou entre os homens. “O julgamento é este: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más”(Jo 3:19, cf. 12:48).

Concluindo: o problema do homem no mundo não se resume nos pecados isolados que comete, ou em render-se à tentação de determinados vícios. O fato é que ele está preso a um sistema fechado de rebelião contra Deus; sistema esse que o condiciona a absolutizar o relativo e a relativizar o absoluto, sistema cujo mecanismo de auto-suficiência priva-o da vida eterna e submete-o ao juízo de Deus. É por essa razão que a evangelização não se pode reduzir à comunicação verbal de conteúdo doutrinário, sem referir-se a formas específicas do envolvimento humano no mundo.

É por essa razão também que a confiança do evangelista não pode ficar à mercê da eficiência de seus métodos. Como ensinava o apostolo Paulo, “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). A proclamação do Evangelho tem de levar a sério a necessidade dos recursos divinos para a batalha.

(René Padilla em A missão da igreja no mundo de hoje. Digitalizado por Eric Brito)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Na contramão do Mundo: de qual mundo? (PARTE III)


(3) O mundo é a humanidade, chamada pelo Evangelho, mas hostil a Deus e escravizada pelos poderes das trevas.

Vez por outra cosmos denota humanidade, sem se referir à posição dele diante de Deus. Com muito maior freqüência, entretanto, denota a humanidade em relação à história da salvação que culmina em Jesus Cristo, por quem será julgada.


(a) O mundo reivindicado pelo Evangelho. A mais categórica afirmação da vontade de Deus de salvar o mundo é a que foi feita na pessoa e obra de seu Filho, Jesus Cristo. Nossa dificuldade em explicar que, a despeito do fato de que a vontade de Deus é a salvação de todos os homens (1 Tm 2:4), mas que de fato nem todos são salvos, isso não nos deveria induzir a negar o escopo universal da soteriologia neotestamentária. De acordo com o Novo Testamento, Jesus Cristo não é o Salvador de uma seita. É antes “o Salvador do mundo” (Jo 4:42; 1 Jo 4:14; 1 Tm 4:10). O mundo é objeto do amor de Deus (Jo 3:16). Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29), a luz do mundo (Jo 1:9; 8:12; 9:5), a propiciação não somente pelos pecados de seu próprio povo, mas “também pelos pecados do mundo inteiro” (1 Jo 2:2; cf. 2 Co 5:19). Para cumprir esse fim, ele foi enviado pelo Pai, não para condenar o mundo, mas “para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3:17).

Obviamente, a salvação de Deus em Cristo Jesus é universal em seu escopo. Mas a universalidade do Evangelho não deve ser confundida com o universalismo dos teólogos contemporâneos que sustentam, tomando como base a obra de Cristo, terem todos os homens recebido a vida eterna, não importando sua posição diante de Cristo. Os benefícios obtidos por Cristo são inseparáveis do Evangelho e, consequentemente, só podem ser recebidos no e através do Evangelho. Pregar o Evangelho não consiste apenas em proclamar um fato cumprido; consiste antes em proclamar o fato cumprido e, simultaneamente, fazer um apelo à fé. A proclamação de Jesus com “Salvador do mundo” não é uma afirmação de que todos os homens são automaticamente salvos; pelo contrário, é um convite a todos os homens para que depositem sua confiança naquele que deu a sua vida em resgate do mundo. “Cristo não nos salva se estamos apartados da fé, e a fé não nos restaura se estamos apartados de Cristo. Ele se tornou um conosco. Temos de nos tornar um com ele também. Sem a afirmação desse duplo processo de auto-identificação, e de suas decorrências, não se faz uma completa exposição do Evangelho”.

Da universalidade do Evangelho deriva a universalidade da missão evangelizadora da Igreja. O clamor dos direitos do Evangelho sobre o mundo, iniciado em Jesus Cristo, continua através de seus discípulos. Assim como o Pai o enviou, assim também ele os enviou ao mundo (Jo 17:18). Em seu nome será anunciado a todas as nações o arrependimento e o perdão de pecados (Lc 24:47; cf. Mt 28:19; Mc 16:15). É essa exigência do Evangelho que dará sentido à História até o fim da presente era (Mt 24:14).

(René Padilla em A missão da igreja no mundo de hoje. Digitalizado por Eric Brito)

Na contramão do Mundo: de qual mundo? (PARTE II)



(2)  Num sentido mais limitado, o mundo é a ordem presente da existência humana, o contexto espaço-temporal da vida.

Este é o mundo das posses materiais, onde o homem precisa se preocupar com “coisas” que são necessárias, mas que facilmente se tornam um fim em si mesmas (Lc 12:30). A “ansiedade” provocada por essas coisas é incompatível com a busca do Reino de Deus (Lc 12:22-31). Os tesouros que o homem seria capaz de juntar na terra são perecíveis (Mt 6:19). De nada adianta ganhar “o mundo inteiro”, mas perder ou ficar privado de sua própria vida, conforme Lucas 9:25 (cf. Jo 12:25). Há um realismo cristão a exigir que levemos isto a sério: “Nada trouxemos para o mundo e nada levaremos do mundo” (1 Tm 6:7). Todas as posses materiais estão sob o signo da transitoriedade de um mundo que avança inexoravelmente para o fim. À luz desse fim tudo que só pertence ao presente torna-se relativo; não pode ser considerada como a totalidade da existência humana (1 Co 7:29-31; cf. 1 Jo 2:17). Pelo contrário: forma parte do sistema da rebelião humana contra Deus.

Proclamar o Evangelho é proclamar a mensagem de um Reino que não é deste mundo (Jo 18:36), e cuja política, portanto, não se pode conformar à política do reino deste mundo. Esse é um Reino cujo soberano “rejeitou os reinos do mundo e sua glória” (Mt 4:8; cf. Lc 4:5), a fim de estabelecer seu próprio reino com base no amor. É um reino que se faz presente entre os homens, aqui e agora (Mt 12:28), na pessoa daquele que não vem deste mundo(tou kosmou toutou), mas “de cima”, de uma ordem situada além do cenário transitório da existência humana (Jo 8:23).

(René Padilla em A missão da igreja no mundo de hoje. Digitalizado por Eric Brito)

Na contramão do Mundo: de qual mundo? (PARTE I)



MUNDO NA PERSPECTIVA BÍBLICA

A simples observação da importância que o termo mundo (grego cosmos) tem no Novo Testamento (especialmente nos escritos joaninos e paulinos, e em passagens relativas à história da salvação) já bastaria para demonstrar a dimensão cósmica do Evangelho. A obra de Deus em Jesus Cristo lida diretamente com o mundo como um todo, não simplesmente com o indivíduo. De modo que a soteriologia que não leva em consideração as relações entre o Evangelho e o mundo não faz justiça ao que a Bíblia ensina.

Mas que é o mundo?

Não posso empreender aqui um estudo exaustivo do tema, mas à guisa de introdução tentarei, de maneira sucinta, selecionar as várias correntes de sentido do complexo termo cosmos, tal como aparece no novo Testamento.

PARTE I

     (1 ) O mundo é a soma total da criação, o universo, “os céus e a terra” que Deus criou no princípio e que um dia criará de novo.

O que mais se destaca no conceito neotestamentário do universo é sua ênfase cristológica. O mundo foi criado por Deus através da Palavra (Jo 1:10), e sem ele nada do que existe se fez (Jo 1:3). O Cristo que o Evangelho proclama como agente de redenção é também o agente da criação de Deus. É ao mesmo tempo o alvo para o qual se dirige toda a criação (Cl 1:16) e o princípio de coerência de toda a realidade, material e espiritual (Cl 1:17).

À luz da amplitude universal de Jesus Cristo, o crente não pode ser pessimista relativamente ao destino final do mundo. Em meio às mudanças da História, sabe ele perfeitamente que Deus não abdicou de seu trono, e que na ocasião propícia todas as coisas se porão sob o jugo de Cristo (Ef 1:10; cf. 1 Co 15:24ss). O Evangelho implica a esperança de “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21; cf. 2 Pe 3:13). Conseqüentemente, a única evangelização verdadeira é a que se dirige para o objetivo final da “restauração de todas as coisas” em Jesus Cristo, prometida pelos profetas e proclamada pelos apóstolos (At 3:21). A escatologia centrada na salvação futura da alma acaba sendo demasiado limitada em face das escatologias seculares de nosso tempo, a mais importante das quais – a marxista – espera instaurar a sociedade ideal e a criação de um novo homem. Hoje, mais do que nunca, a esperança cristã, em toda a sua plenitude, tem de ser proclamada com tal convicção, e com tal força, que a falsidade de todas as outras nem careça de demonstração.

(René Padilla em A missão da igreja no mundo de hoje. Digitado por Eric Brito)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O PODER DA GRAÇA




Sinopse

Dos mesmos criadores de “Fireproof” (A Prova de Fogo), The Grace Card é uma poderosa história sobre perdão. O filme conta a história do policial Mac McDonald que perdeu seu filho num acidente. Anos de amargura e dor destruíram o amor por sua família e o deixaram revoltado com Deus... E com todo mundo! Será que Mac e seu novo parceiro, o Sargento Sam Wright, conseguirão de alguma forma unir forças para ajudar um ao outro quando se depararem com suas diferenças, em especial a mais óbvia? Todos os dias, temos a oportunidade de reconstruir relacionamentos e curar feridas dando e recebendo a graça de Deus. Ofereça O PODER DA GRAÇA… E nunca subestime o poder do amor de Deus.

Titulo Original: The Grace Card
Título Traduzido: O Poder da Graça
Diretor: David Evans
Gênero: Drama
Duração: 120 Minutos


TRAILER