sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Na contramão do Mundo: de qual mundo? (PARTE III)


(3) O mundo é a humanidade, chamada pelo Evangelho, mas hostil a Deus e escravizada pelos poderes das trevas.

Vez por outra cosmos denota humanidade, sem se referir à posição dele diante de Deus. Com muito maior freqüência, entretanto, denota a humanidade em relação à história da salvação que culmina em Jesus Cristo, por quem será julgada.


(a) O mundo reivindicado pelo Evangelho. A mais categórica afirmação da vontade de Deus de salvar o mundo é a que foi feita na pessoa e obra de seu Filho, Jesus Cristo. Nossa dificuldade em explicar que, a despeito do fato de que a vontade de Deus é a salvação de todos os homens (1 Tm 2:4), mas que de fato nem todos são salvos, isso não nos deveria induzir a negar o escopo universal da soteriologia neotestamentária. De acordo com o Novo Testamento, Jesus Cristo não é o Salvador de uma seita. É antes “o Salvador do mundo” (Jo 4:42; 1 Jo 4:14; 1 Tm 4:10). O mundo é objeto do amor de Deus (Jo 3:16). Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29), a luz do mundo (Jo 1:9; 8:12; 9:5), a propiciação não somente pelos pecados de seu próprio povo, mas “também pelos pecados do mundo inteiro” (1 Jo 2:2; cf. 2 Co 5:19). Para cumprir esse fim, ele foi enviado pelo Pai, não para condenar o mundo, mas “para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3:17).

Obviamente, a salvação de Deus em Cristo Jesus é universal em seu escopo. Mas a universalidade do Evangelho não deve ser confundida com o universalismo dos teólogos contemporâneos que sustentam, tomando como base a obra de Cristo, terem todos os homens recebido a vida eterna, não importando sua posição diante de Cristo. Os benefícios obtidos por Cristo são inseparáveis do Evangelho e, consequentemente, só podem ser recebidos no e através do Evangelho. Pregar o Evangelho não consiste apenas em proclamar um fato cumprido; consiste antes em proclamar o fato cumprido e, simultaneamente, fazer um apelo à fé. A proclamação de Jesus com “Salvador do mundo” não é uma afirmação de que todos os homens são automaticamente salvos; pelo contrário, é um convite a todos os homens para que depositem sua confiança naquele que deu a sua vida em resgate do mundo. “Cristo não nos salva se estamos apartados da fé, e a fé não nos restaura se estamos apartados de Cristo. Ele se tornou um conosco. Temos de nos tornar um com ele também. Sem a afirmação desse duplo processo de auto-identificação, e de suas decorrências, não se faz uma completa exposição do Evangelho”.

Da universalidade do Evangelho deriva a universalidade da missão evangelizadora da Igreja. O clamor dos direitos do Evangelho sobre o mundo, iniciado em Jesus Cristo, continua através de seus discípulos. Assim como o Pai o enviou, assim também ele os enviou ao mundo (Jo 17:18). Em seu nome será anunciado a todas as nações o arrependimento e o perdão de pecados (Lc 24:47; cf. Mt 28:19; Mc 16:15). É essa exigência do Evangelho que dará sentido à História até o fim da presente era (Mt 24:14).

(René Padilla em A missão da igreja no mundo de hoje. Digitalizado por Eric Brito)

Nenhum comentário:

Postar um comentário