sábado, 28 de maio de 2011

Jesus é a resposta para morte



No artigo anterior - “Jesus é a Resposta, mas qual é a pergunta?” (Leia Aqui) eu terminei concluindo que, num tempo onde não se faz as perguntas, faz-se necessário conduzir as pessoas até elas. E, em especial, as pergunta pelo significado - "De onde viemos, para que viemos e pra onde iremos". Nesse ponto, eu disse: “E, pelo testemunho de Cristo em nós, podemos expor as respostas que temos encontrado nEle”.

Gostaria de, nesse novo artigo, expor sobre uma resposta fundamental que o ser humano, em angústia e desespero, pode encontrar em Cristo. De modo mais direto: Jesus é a resposta para morte.

A morte é um tema amplo, que permeia, simultaneamente, as nossas três perguntas - "De onde viemos, para que viemos e pra onde iremos".  “O sentido da vida” – diz o Rubem Alves, “se dependura no sentido da morte”. Na pergunta pela finalidade da existência, não há disjunção entre a morte e a vida. Se há, de fato, um significado para vida, há significado para morte.

Mas hoje em dia, de um modo geral, não só não se fazem perguntas sobre o significado, como que, a todo custo, evita-se temas desagradáveis. Assim, a morte não é algo que se deva conversar. Não muito raro, um moribundo não tem a oportunidade de conversar sobre o que lhe sobrevirá.

O Eclesiastes é um livro sapiencial, de sabedoria. Sabedoria existencial - àquela adquirida de vivências e experimentações. Não obstante, quase sempre é tardia. “Experimentado”, certamente é um adjetivo que se possa qualificar com propriedade o seu escritor. Assim, o experimentado escritor diz:

Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete; porque ali se vê o fim de todos os homens, e aquele que vive reflete em seu coração.È melhor a tristeza do que o riso, porque a tristeza do corpo torna melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos está na casa do prazer” .

Numa leitura mais fluente de parte do texto, lemos:

“Melhor é ir à casa do luto ... porque ali se vê o fim de todos os homens ... [E isso faz com que] aquele que vive reflita em seu coração”.

Acho significativo que, no livro provavelmente escrito pelo Rei cuja insígnia maior foi a sua sabedoria[1], essa sabedoria seja associada à tristeza: a tristeza do corpo torna melhor o coração. Não uma tristeza qualquer, uma que suscite perguntas. Assim, o coração dos sábios está na casa do luto porque é diante da morte, que o homem se pergunta pela vida. O luto repercute como uma interrogação. A casa do luto forja o sábio.

Se me permitem, eu queria extrair disso um corolário: há um problema com o riso sem fim.

O problema da casa do banquete é a sua desconexão com a vida. Não há problema algum com a Alegria em si mesma[2]. O problema com a casa do banquete é o ambiente de distrações, onde as perguntas não são feitas. Assim é o nosso mundo - tenta-se transformá-lo num grande parque de diversões. Um entretenimento sem fim. Descanso para um cansaço que não é real. A ordem é vencer o tédio da vida. Dessa forma, o homem moderno é um distraído. O homem moderno é um homem sem luto. E é com distração que superamos a necessidade de nos perguntarmos pelo significado.

Em tempos assim, ressalta-se ainda mais o “endereço da sabedoria” – a casa do luto.

Diante da morte, não há opções, o cérebro tem que trabalhar. Diante de um luto, o vivo se dá conta de seus próprios caminhos e rumos. De repente, ele tem a certeza que sempre deveria ter: eu vou morrer! E ele é colocado diante dele mesmo – enxerga seu coração – e o seu coração tem perguntas a fazer. A sabedoria da casa do luto nos impõe – Inadistraidamente a pergunta sobre o significado.

Há um texto nos Salmos que ecoa essa pedagogia do luto: ensina-me a contar os dias da minha finitude...

Como já sugerimos, os porquês refletem diretamente sobre o “como”: há implicações éticas na filosofia. E o Salomão nos diz: a tristeza do corpo torna melhor o coração.

A sabedoria do luto nos faz viver melhor. Viver mais conscientes! E, de fato, por toda Bíblia, morte e vida são contrapostos, como modos de vida:

“...te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Deuteronômio 30.19).

No texto de Isaías/Coríntios que já citamos no primeiro artigo, se diagnostica:

 “Se é verdade que os mortos não são ressuscitados, façamos o que diz o ditado: Comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (I Co 15.32).

Essa é, digamos, uma filosofia do "pra onde iremos". E a resposta dessa filosofia é: Não iremos para lugar algum. Por isso temos que consumir o hoje com a voracidade de um hedonista. Por isso tem que ser irresponsivamente intenso, e nervosamente urgente.

As implicações éticas dessa filosofia não podia ser outra: Comamos e bebamos porque amanhã morreremos. Ainda aqui, a morte, define a vida.

Há um diálogo no livro Alice no país das maravilhas, que diz:

-Que caminho eu devo tomar?
-Depende para onde você está indo.
-Eu não sei para onde eu estou indo.
-Então não importa que caminho tomar.

Nosso mundo é habitado por pessoas que não sabem para onde estão indo, e, conseqüentemente, pessoas indiferentes em seus caminhos. Simplesmente: não se tem aonde chegar. Essa é outra filosofia do “pra onde iremos”. E sua implicação sobre o modo de vida é bem visível.

Mas queremos propor aqui, que o caminho do sábio eclesiástico é um meio caminho – ele nos impõe a pergunta. Ele já predispõe o coração a um por que. Qual, contudo, é esse por quê?

A Ressurreição é o cerne da esperança cristã. “Porque Ele vive” – diz o hino, “posso crer no amanhã”.

O capítulo 15 de I Coríntios é, quase que em sua totalidade, escrito fundamentando-se nessa esperança:

“E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé...”
“E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram”.
“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”.
“Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem”.

“Se é verdade que os mortos não são ressuscitados, façamos o que diz o ditado: Comamos e bebamos porque amanhã morreremos” (I Co 15.32).

E a resposta da fé cristã é: porque seremos ressuscitados, não dá pra simplesmente comer e beber. A Vida é mais! E a vida vale mais!

E porque Cristo, de fato, ressurgiu dos mortos, preciosa é a nossa pregação, e preciosa é a nossa fé. A nossa esperança em Cristo não se limita apenas a esta vida.  A morte foi tragada. Cristo é levantado como a primícia, isto é, o Primeiro a levantar vitorioso sobre a morte. A Sua Ressurreição é o modelo da nossa Esperança, que canta: Onde está, ó morte, a tua vitória?

A resposta cristã à morte é a Ressurreição de Cristo como vitória sobre ela e como esperança da nossa vitória futura sobre ela.

A casa do luto é o lugar do nosso aprendizado, mas não é a nossa casa. A Alegria cristã se dá, paradoxalmente, em torno de uma morte. É como no fim da parábola do filho pródigo – um Cordeiro é morto, como manifestação de uma alegria. A festa se dá em torno desse sacrifício. E todos aqueles que estão diante da Cruz dizem amém.


[1] E possivelmente escrito num tempo de idade avançada.
[2] Pelo contrário, na Bíblia, a Alegria é mandamento. “A Alegria é algo muito sério no Céu” – disse o Lewis.

Eric Brito

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